João Louro é o artista convidado a dirigir “Black Box: Museu Imaginário”

João Louro é o artista convidado a dirigir “Black Box: Museu Imaginário”
October 16, 2017 João Louro

Caramulo, 10 de Outubro de 2017 – A exposição “Black Box: Museu Imaginário” tem despertado o interesse e curiosidade das mais de 15 mil pessoas que já a visitaram. Quatro meses após a inauguração, o Museu do Caramulo desafiou o artista João Louro, director da exposição, a partilhar os seus pensamentos e a explicar a origem desta ideia.



Como é que surgiu este projecto?

Este projecto surgiu depois de um convite feito pela direcção do Museu do Caramulo para desenvolver uma ideia de exposição em moldes algo diferentes. Seria um artista a escolher outros artistas e produzir sentido no contexto do museu. Gostei logo da ideia e reflecti sobre a melhor forma de estabelecer um patamar que fosse replicável para as 6 exposições, que todos os anos serão produzidas pelo museu. Foquei-me sobretudo em trazer um olhar diferente, estabelecendo relações, trabalhando o museu como um todo. Achei que o museu devia ser parte integrante, com o seu acervo e as obras dos artistas convidados colocadas no museu, criavam um percurso, uma nova camada de significado. Interessei-me por produzir esse percurso e relançar o museu nesse caminho, acrescentando de forma eficaz valor ao que existia. Quem visitar esta exposição, visita também o museu e as obras que já lá estão.



Como é que foi a experiência de assumir a direcção de uma exposição e passar para o “outro lado”?

Esse foi um desafio… Sobretudo porque não querendo ser curador, pois não tenho essa pretensão, o meu olhar é sempre de artista. Passar para o outro lado teria que ser segundo outro ângulo. Daí ter criado este modelo de “director”, à semelhança de um director de uma orquestra, ou de cinema. Não tenho intenção, nem pretendo “fazer a cura” de nada… e por isso prefiro a luta entre a razão e a paixão, com tudo o que isso implica, e menos a assertividade da curadoria. Isso interessa-me menos! Isto não é uma experiência “científica” associada a um discurso literário. Daí partir de eleições afectivas, escolhendo artistas que me interessam e que podem desafiar o acervo do museu, aumentando o sentido, quer do que está exposto, quer das obras dos artistas convidados. Era também muito importante que as obras desses artistas, que são incluídas num ambiente que pode até ser adverso, sejam resistentes a esse contacto. Neste caso não há um “white cube”… Queria que fosse algo que andasse em sentido inverso e foi por isso que criei o conceito de “Black Box”, título que serve de mote para este ciclo de exposições. A “caixa negra” é um equipamento de memória que acrescenta e inclui. Era isso que me interessava, mais do que a “caixa de petri” e o microscópio por onde se espreita, que é a “sala branca” asséptica e silenciosa. O subtítulo é da responsabilidade do artista convidado e neste caso escolhi para esta exposição, que também lança o conceito, um conhecido livro de André Malraux: “Museu Imaginário”.



Qual é o conceito por detrás de exposição “Black Box: Museu Imaginário”?

O conceito teria que passar, em primeiro lugar, por criar um mote sólido, que criasse uma estrutura para um ciclo de 6 exposições, em 6 anos consecutivos. Eu tinha essa responsabilidade acrescida, já que defini com o museu, as linhas de actuação. Cabia-me definir esse modelo e estava interessado em deixar essa semente para os outros artistas que hão-de ser convidados nas próximas exposições deste ciclo. Implementar a interacção das obras dos artistas contemporâneos com o museu, com todas as suas características, quer da sua arquitectura, quer do seu acervo. Esse era o meu objectivo. Não estava interessado em remover nada do museu, apenas o estritamente necessário. As obras dos artistas convidados teriam que encontrar o seu lugar, o melhor possível, para acrescentarem o tal sentido biunívoco.



Qual foi o critério para escolher estes seis artistas?

Foi seguir o instinto e escolher artistas de que gosto e que, pelo seu trabalho, podem interferir com o museu e as obras que lá existem. É portanto mais uma escolha sentimental do que racional. Depois de ter o modelo definido, foi seguir as “afinidades electivas”… Claro que poderia ter escolhido mais artistas, dos que fazem parte desse universo sentimental (e há muitos outros), podia ter escolhido outras obras, mas estes artistas que escolhi estariam sempre.