Uma Porta, uma Janela, um Tesserato e o Mundo

Uma Porta, uma Janela, um Tesserato e o Mundo
September 25, 2017 João Louro

Is on view until November 6th, at Galeria Fernando Santos, Oporto.

As obras inéditas apresentadas neste novo projecto de João Louro, na galeria Fernando Santos, incluem-se no seguimento de investigações anteriores, que se centram na revisão do universo visual, na sobreposição de imagens (que produzem o novo “negro”), na desconfiança perante a imagem e nas possibilidades contemporâneas do invisual e do invisível.

É pois nessa margem, entre as questões fisiológicas da visão, naquilo que o cérebro acrescenta ao que o olho vê, e as questões que o artista coloca através da obra — e que falam desde o mundo na sua era de hiper-realidade e de hiperactividade —, onde se estabelece a área mais vasta da sua acção, que está presente também nestas quatro obras apresentadas.

No seu interesse pela arquitectura, em obras como as “Site Scenes”, a “Casa de Wittgenstein”, a “Casa de Buster Keaton”, entre outras, inscreve-se a obra “Hades” – a porta do reino do submundo. Na mitologia grega, Hades era o deus responsável por governar o mundo subterrâneo, um mundo sem imagens, na riqueza dos mortos e das suas almas.

Nesse grupo inclui-se também a “Janela”, uma janela empurrada contra a parede, suportada por um barrote fixo ao chão. Da pressão do outro lado, um sem-lado-de-fora, escuro e sobreposto que não permite a sua visualização. É provavelmente esse o ponto cego do mundo hiperactivo e hiper-real.

“Tesserato” é a obra que faz a ligação de todas as outras obras expostas. Trata-se de um hipercubo, um cubo na quarta dimensão. A reflexão feita ao longo do tempo através das “Blind Images” (um projecto inacabado), sobre a imagem e o excesso, desemboca na ideia de que o plano da imagem (ou da falta dela), que convoca a linguagem, se desenvolve e transforma-se em objecto. Nesta nova fase das “Blind Images” as inscrições do texto assumem posições inusitadas, assiste-se à sua desmultiplicação, em tesserato, e a entrada numa nova dimensão. A imagem é agora objecto e o texto é um pretexto. “They live by night,” um filme de Nicholas Ray, é o relatado neste primeiro tesserato.
A obra é acompanhada por um conjunto de estudos sobre papel, de aproximações errantes ao objecto exposto, sem precisarem o todo, numa flutuação, sem alto ou baixo, só silêncio e escuro.
Por fim, o projecto acaba no “Mundo”. Um planisfério em tela, nessa visão antropocêntrica que se desfaz. O mundo que cabe na palma da mão, papel amarrotado, dejecto de escritor.