UM HORIZONTE DE PROXIMIDADES – UMA TOPOLOGIA A PARTIR DA COLEÇÃO ANTÓNIO CACHOLA
Curador: Sérgio Mah
Iniciada na primeira metade da década de 1990, a Coleção António Cachola tem vindo a constituir-se como a mais ampla, diversificada e consistente coleção privada de arte contemporânea em Portugal, sendo reconhecida como um repositório essencial para quem quiser discernir as tendências e as transformações artísticas que ocorreram em Portugal desde os anos de 1980, sintomaticamente, um período que marca também o início de uma nova etapa – política, económica, institucional e cultural – da história recente do nosso país.
Um horizonte de proximidades estrutura-se numa sequência de segmentos expositivos que visam explorar as articulações entre um conjunto de obras e as circunstâncias arquitetónicas, geográficas e simbólicas do Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas. Neste sentido, a exposição propõe um percurso por várias zonas temáticas. Sendo o edifício do Arquipélago uma antiga fábrica de álcool e de tabaco, a exposição começa por uma sala onde se reúnem obras que abordam mais diretamente as ideias de (re)construção e de lugar, de geometria e de arquitetura. Na sala seguinte sobressaem as questões em torno da identidade e da intersubjetividade, da linguagem e da ficcionalidade. Na terceira sala, o tema da paisagem, tema inevitável numa realidade territorial como é a dos Açores, é explorado em várias vertentes, entre a experiência sensorial e o comentário crítico. Seguem-se alguns espaços de passagem e circulação, como zonas intersticiais, nos quais aparecem obras que apontam para derivações recentes no domínio do abstração, práticas que valorizam a informalidade e os imaginários lúdicos, como também atitudes que interpelam, entre a ironia e a denegação crítica, imagens e sintomas da cultura contemporânea. Um último núcleo situa-se na cave, um espaço anteriormente utilizado como armazém. As características espaciais e arquitetónicas, a luz escassa e baixa, a presença avassaladora da pedra, escura e rude, impõem uma peculiar temperatura física e atmosférica (e emocional) que envolve o encontro com obras muito diversas, mas que orbitam em redor da luz, do tempo e da memória. Em suma, todas estas zonas são pensadas como contextos especulares e experienciais destinados a potenciar eixos de convergência e de remissão, de cruzamento e de intuição entre objetos díspares.
Esta é a mais vasta exposição – em número de artistas, volume de obras e área expositiva – da Coleção António Cachola realizada até hoje. Nela se inclui uma parte significativa dos artistas que se destacaram nos anos de 1980 até às gerações mais recentes, designadamente artistas nascidos depois da Revolução de 1974, permitindo configurar um espectro alargado de géneros e atitudes concetuais, de dispositivos artísticos e de inclinações discursivas e estéticas, por conseguinte, uma amplitude e diversidade que acompanha o carácter heterogéneo e transversal que distingue o atual panorama das práticas artísticas em Portugal.
Todas as obras que integram a exposição estão atualmente em depósito no Museu de Arte Contemporânea de Elvas e no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, em Lisboa. Os 38 artistas: Alexandre Conefrey (1961), Alexandre Estrela (1971), André Guedes (1971), Augusto Alves da Silva (1963), Bruno Pacheco (1974), Carla Filipe (1973), Dalila Gonçalves (1982), Daniel Barroca (1976), Diogo Pimentão (1973), Fernanda Fragateiro (1962), Francisco Tropa (1968), Igor Jesus (1989), Inês Botelho (1977), João Leonardo (1974), João Louro (1963), João Onofre (1976), João Maria Gusmão (1979) & Pedro Paiva (1977), João Queiroz (1957), João Tabarra (1966), Jorge Molder (1947), José Loureiro (1961), José Pedro Croft (1957), Julião Sarmento (1948), Manuel Rosa (1953), Miguel Ângelo Rocha (1964), Nuno Sousa Vieira (1971), Patrícia Garrido (1963), Pedro Barateiro (1979), Pedro Cabrita Reis (1956), Pedro Calapez (1953), Pedro Casqueiro (1959), Rui Chafes (1966), Rui Sanches (1954), Rui Toscano (1970), Rui Valério (1969), Susanne Themlitz (1968), Xana (1959).