Sem Título

Sem Título
May 9, 2023 João Louro

Curated by Bernardo Pinto de Almeida

13.05.2023 > 09.09.2023

Galeria Fernando Santos, Porto

 

Alberto Carneiro, Alicia Eggert, Álvaro Lapa, Ana Vidigal, Avelino Sá, Bosco Sodi, Carmen Calvo, Costa Pinheiro, Cristina Massena, Gerardo Burmester, Jaume Plensa, João Louro, João Penalva, Jorge Galindo, Jorge Perianes, José Loureiro, Luís Gordillo, Luísa Correia Pereira, Manuel Baptista, Manuel Ocampo, Manuel Rosa, Maria José Aguiar, Maria José Oliveira, Markus Lupertz, Nikias Skapinakis, Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez, Pedro Casqueiro, Pedro Quintas, Pedro Valdez Cardoso, Ray Smith, René Bertholo, Rúben Rodrigo, Rui Sanches, Saint Clair Cemin, Sandra Baía, Santiago Ydáñez e Vitor Pomar

 

1. Tudo aqui são pretextos para compreender, como se nos fotogramas de um filme entrecortado, caminhos que toma a arte na única contemporaneidade que a define.

Sendo esta mais estado de espírito do que propriamente programa estético reconhecível, e sendo este sobretudo, como já antes lhe chamei, o tempo de todas as imagens, a contemporaneidade é atravessada por impulsos múltiplos, pulsões, desejos, impressões, falhas, tentativas, erros, possibilidades e caminhos que por vezes não levam a parte alguma. Sob o seu manto espesso e vário, todavia, florescem, numa incerteza impossível de apropriar, várias raízes do futuro. Nela repousam já, como se prontas a acordar, essas sementes que, mais adiante, alguns irão reconhecer como originárias de poéticas que então serão estabilizadas, exemplos do que preparou o tempo, sinais precisos, mesmo se por agora indecifráveis, de um outro e novo sentimento do tempo.

Contemporâneos são, entre si, todos estes artistas, tendo sido todos eles habitantes de um mesmo tempo, ainda que a partir de vários lugares, coabitando nele, mesmo se muitos jamais se cruzaram alguma vez entre si.

2. Caminhamos, todos, num tempo incerto, em si mesmo incompreensível, assustados por guerras, pandemias, apocalípticos sinais de mudanças bruscas. (…) E nunca como no nosso tempo terá sido tão sensível a disrupção entrópica, o diferendo generalizado, a entrecortada linha de sombra que parece de repente desfazer toda a luz que nos assiste. Como escreveu um dia o grande Mário Cesariny, de quem se cumprem cem anos, falta aqui uma grande razão.

(…) Na incerteza do mundo actual, a arte tem vindo a ganhar a função de iluminar, como outrora a filosofia iluminava. Diverte, sugere, coloca hipóteses, questiona e afirma rumos, liberta-nos da normalização e do estável para que o mundo inexoravelmente tende sob a força de novas ordens, políticas, financeiras, geográficas e aponta, em vez deles outros caminhos, mais livres, ainda por percorrer cuja direcção exacta ainda desconhecemos.

3. Diálogo permanente e subtil, dá-nos, subtil e de uma forma que age inconscientemente, o próprio de um sentido que ainda não conseguimos adivinhar mas que, pouco a pouco, se nos vai revelando: abre-nos à infinita metamorfose do sensível.

Esse outro sentido é, por ora, sem título: correndo sob os nossos olhos, ligando-nos num tempo que já é global, ele escreve-se.

E nós com ela, secretamente, escrevemo-nos nele.

 

Bernardo Pinto de Almeida, 2023