GRAND PRIX
Esta é uma exposição sobre estradas. E curvas. É sobre a meta e onde tudo é velocidade neste tempo imóvel. E o automóvel de corrida que vai cortar a meta é onde eu estou, sozinho, ao volante, nas 24 horas de Le Mans. E olho para o lado. E nesse micro-segundo descubro o acidente inicial e quero ser o lado de fora. Quero ser a berma, o cão vadio ou o vagabundo e ir para o sítio onde a velocidade abranda e o tempo avança. Nesse sítio de fora vejo a máquina a passar num vroooommm descendente de “efeito doppler” e sou o espectador-mediador. Sou o que propõe. Sou aquele que propõe a possibilidade que alguns suspeitam que existe e que eu, por pudor, nunca disse claramente. Grand Prix: É a recta com uma curva no fim. É onde está a berma, o cão vadio e o vagabundo a olharem, velozmente, a fotografia do automóvel em alta velocidade num freeze desfocado. E é esse ponto final no cruzamento do tempo-parado-automóvel-de-corrida o sítio da velocidade máxima da recta da meta (sim, esse é o segredo).
(Agradeço ao Juliano Garcia Pessanha, escritor brasileiro, “meu familiar”, ter-me recordado onde está a ”berma”, o “cão vadio” e o “vagabundo”).
João Louro, 2011