O artista português faz um percurso da sua carreira no Palácio Loredan. Obras novas de séries antigas. Direção das Artes não esclareceu o processo de seleção dos artistas para Veneza.
Texto Cláudia Carvalho in jornal Público, 19.03.15
Imagens negras à espera que a nossa imaginação as preencha, sinais de trânsito que nos levam a destinos literários. João Louro chama-lhes Blind Images e Dead Ends. Estes trabalhos dão continuidade a séries antigas que lhes trouxeram reconhecimento. O artista vai apresentá-los na Bienal de Veneza, no Palácio Loredan, “a melhor localização possível”, como foi anunciado ontem, em conferência de imprensa na biblioteca do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa. Serão mais de uma dezena de obras novas. João Louro olha para o passado para nos pôr a pensar no presente e a refletir no futuro.
Começa-se a levantar o véu sobre a representação oficial de Portugal na 56ª edição da Bienal de Veneza, que acontece de 9 de maio a 22 de novembro: João Louro apresentou o projeto a que chamou I Will Be Your Mirror – poems and problems, Inspirando-se na canção dos Velvet Underground com o mesmo nome. Não será Louro o espelho mas sim o seu trabalho: uma obra aberta que varia de pessoa para pessoa. O que um vê não é necessariamente o que o outro vê. Uma obra que ganha dimensão no espectador.
“O João Louro utiliza todos os elementos que estamos acostumados a ver, como a sinalização das estradas, as fotografias, as imagens, os livros. Mas nunca os utiliza como são na realidade, converte-os para nos fazer pensar que são outros elementos que têm outras possibilidades”, diz aos jornalistas no final da conferência de imprensa María de Corral, a curadora escolhida para comissariar a representação portuguesa. “Isso é algo que me parece fundamental porque obriga sempre o espectador a pensar, a ver onde se encontra, o que está a enfrentar”, continua a comissária espanhola com quem o artista já trabalhou em Veneza em 2005, quando foi um dos convidados para a colectiva A Experiência da Arte, que Corral comissariou na bienal.
Em Veneza, comissária e artista querem “olhar o passado para representar o futuro”, de acordo com o tema central de toda a bienal e que foi escolhido pelo curador e escritor nigeriano Okwui Enwezor, o diretor artístico da edição deste ano do evento, que tem como título All the World’s Futures (Todos os Futuros do Mundo).
“A arte é sempre uma intervenção de entendimento do mundo como ele está. Como artista, o que faço é sentir o sinal dos tempos. Há temas suficientes para serem usados”, conta João Louro, explicando que em Veneza vai apresentar novas Blind Images, onde superfícies negras surgem acompanhadas de legendas que remetem para imagens que foram omitidas, Dead Ends, painéis de autoestrada que nos levam por exemplo a Maquiavel, e Covers, pintura em grande formato representando capas de livros célebres como Ulysses de James Joyce.
Estas são as suas linhas de trablaho mais fortes. “Continuo a explorá-las quando faz sentido”, diz. “Vamos ter outras obras pelo meio, mas eu diria que é um percurso que vai desde a fotografia até ao objeto, passando pelas Blind Images e o Dead Ends.”